Ortodoxia e piedade

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Ortodoxia é doutrina certa; piedade é vida certa. Esse binômio jamais deveria ser separado. Até porque a doutrina desemboca na vida, e a vida é resultado da doutrina. Se a doutrina é certa, a vida que segue a doutrina deve estar certa. Se a doutrina é errada, a vida não pode estar certa, pois esta é resultado daquela. Assim como o homem crê, assim ele é. Portanto é uma gritante contradição alguém professar a doutrina certa e viver de modo errado. Quando há um desequilíbrio ou contradição entre teologia e ética, doutrina e vida, credo e conduta, o testemunho do Evangelho enfraquece, e a igreja perde sua vitalidade espiritual e sua relevância na história.

Temos visto, hoje, muitas igrejas abandonando a sã doutrina. Algumas, seduzidas pelo liberalismo teológico e seus apêndices, perderam o rumo. Viram seus templos se esvaziando e seus púlpitos deixando de pregar o Evangelho para discutir as questões políticas e sociais. Outras igrejas, por sua vez, rendidas ao pragmatismo, criaram mecanismos para atrair as pessoas ao seu reduto, oferecendo a elas o que elas desejam, como prosperidade, curas e entretenimento. Inobstante o boom de crescimento, essas igrejas abandonaram a sã doutrina e se perderam numa religião de mercado.

Há igrejas que bravamente lutam pela preservação da sã doutrina, porém deixam de buscar a piedade. Tornaram-se zelosas da verdade, mas perderam o primeiro amor. Ostentam uma ortodoxia ossificada. A ortodoxia, embora seja vital e inegociável, precisa vir acompanhada de piedade. A ortodoxia morta mata. Há igrejas que, embora ortodoxas, estão definhando. Falta-lhes vigor. Padecem de uma crônica esterilidade. O problema certamente não é a ortodoxia, mas a ortodoxia divorciada da piedade.

Outras igrejas, equivocadamente, buscam piedade sem ortodoxia e caem no pietismo experiencialista. Essas igrejas abandonaram as Escrituras, mesmo com a Bíblia na mão, para buscarem novas revelações, seguirem uma luz interior, em vez de seguirem os retos preceitos divinos que são infalíveis e suficientes. Deixaram a fonte das águas vivas e cavaram cisternas rotas. Essas igrejas buscam uma espiritualidade efusiva, mas mística. Usam a Bíblia, mas não obedecem suas normas claras de interpretação.

Fica evidente que tanto o liberalismo teológico como o misticismo pragmático, embora aparentemente em polos opostos, são filhos bastardos do mesmo ventre, a apostasia, o abandono das Escrituras. O primeiro coloca a razão acima das Escrituras; o segundo coloca a experiência acima das Escrituras. Ambos abandonam a centralidade das Escrituras. É digno de nota, porém, que a fé cristã não está fundamentada na razão humana nem mesmo em sua experiência, mas na revelação divina. A Bíblia não está caduca, como pensam os liberais, nem é um livro mágico, como defendem os místicos. A Palavra de Deus é eterna. É infalível, inerrante e suficiente. É nossa única regra de fé e prática. Ela nos basta. Nosso papel é pregar a Palavra, pois ela tem vida em si mesma. Por meio dela, Deus chama os pecadores ao arrependimento. Por meio dela, somos regenerados pelo Espírito. Através dela somos santificados e fortalecidos na fé.

É tempo de voltarmo-nos para a doutrina dos apóstolos. Precisamos de uma igreja fiel e relevante. Uma igreja que pregue o Evangelho com fidelidade e poder, e ore com fervor e perseverança. Uma igreja cheia de conhecimento e bondade, e cheia do Espírito Santo. Uma igreja que tenha comunhão fraternal e compaixão pelos necessitados. Uma igreja que cresça em qualidade e quantidade. Uma igreja que levante o estandarte da ortodoxia e viva na prática da piedade.

:: Hernandes Dias Lopes

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